OS MEUS OBSTÁCULOS

05-07-2017

Acho que nunca vai haver um momento certo para falar do assunto que "define" por completo a minha vida. Porque não falar hoje?

Confesso que não me sinto à vontade para escrever sobre isto mas a escrita faz-me tão bem e de qualquer forma, vivemos num mundo tão egocêntrico que ninguém irá de certo se importar que eu partilhe os tropeços que tenho dado ao longo destes anos.

Hoje é um dia especial, faz 7 anos que iniciei a minha grande batalha! E finalmente vou começar a falar de tudo o que dá vida (e nome também!) a este blog.

Comecei a frequentar hospitais com uma regularidade que até para quem é filha de uma enfermeira não era muito normal. Eu sabia que algo se passava e não me convencia com aquelas respostas "Essas dores são do crescimento!". Algo se passava com o meu organismo, de dia para dia estava mais fraca e devo dizer-vos que aos 11 anos não é propriamente fácil deixar de conseguir tomar banho sozinha (sim! Tem a sua piada mas estou a falar muito a sério!).

Nós nunca damos valor àquilo que temos de mais importante até que isso se encontre em falta...nunca pensei vir a precisar de ajuda para me levantar da cama ou que iria ter vergonha de usar uma saia porque viria a encontrar-me num corpo que já nem reconhecia como meu. Muito aconteceu na minha vida desde o dia em que uma dor de barriga e uma dificuldade em dobrar o joelho direito fizeram com que a minha mãe ficasse desconfiada que algo se passava.

De um momento para outro, milhões de coisas estranhas estavam a acontecer. Uma mancha no braço, uma grande dor na perna, um cotovelo que não conseguia esticar, um pé inchado...e sim, parecia uma velhinha de 70 anos à procura de "novas peças" para este corpo tão debilitado.

Sabem quando queremos muito fazer uma coisa e não conseguimos? Quando sabemos que existe uma resposta que tanto procuramos e nunca encontramos? Eu passei vários anos ansiando por algo do género. Todos esses sintomas que iam aparecendo e desaparecendo acompanharam-me ao longo da escola e de tudo o que fazia porque como se costuma dizer, a vida continua não é?

É, dizem que sim. Mas ninguém diz o quão difícil é lidar com problemas tão silenciosos e, ao mesmo tempo, tão dolorosos. Antigamente tinha um grande receio de falar dos meus problemas, sempre pensando que de facto, existem tantas crianças que passaram por situações piores que acabava por minimizar tudo aquilo que estava sentindo...estava errada! Tentava ao máximo esquecer aquilo que se passava comigo, com o meu corpo e com a minha saúde! Até que fui para o décimo ano, a coisa estava a ficar séria...muito calor para andar sempre de casaco a tapar as minhas "marcas de guerra" desde manchas que apareciam do nada no meu corpo até cicatrizes de biópsias e montes de análises à pele que fiz ao longo do tempo.

Estava na altura de aceitar que era diferente e deixar de ter vergonha daquilo que era. No entanto, a necessidade de comparação com os outros a toda a hora fazia com que me sentisse repugnada com o que via em frente ao espelho e, inevitavelmente, criei uma espécie de proteção. O segredo era não deixar ninguém se aproximar muito de mim e nunca, mas nunca contar a ninguém tudo o que se estava a passar na minha vida!

Nada disto demorou muito tempo. Conheci algumas pessoas maravilhosas que até hoje têm sido pilares fantásticos para que eu nunca bata no "fundo do poço". Até ao décimo segundo ano fui crescendo, fortalecendo toda a minha capacidade de passar por cima dos obstáculos e percalços que a vida nos apresenta de repente.

A meio do secundário foi, finalmente, diagnosticado tudo o que estava a provocar os meus problemos desde cedo. Descobrimos que tenho lúpus, uma doença autoimune que é crónica e, por agora, não há cura mas a esperança será sempre a última a morrer. É verdade que a doença agravou o meu estado físico, tenho osteoporose e posso partir ossos com muita, mas mesmo muita facilidade. Mas digam-me se não é engraçado viver num jogo contínuo ao qual eu chamo "desvia-te do perigo". Para agravar, tenho uma nefrite lúpica que basicamente, é uma bomba relógio dentro de mim e a qualquer momento o meu rim pode falhar de vez e aí, tenho de começar a fazer hemodiálise (vendo o lado positivo, terei muito tempo para escrever no blog!).

Eu quis partilhar tudo isto com quem estiver a ler porque hoje sinto-me à vontade para falar de tudo o que se passou e passa comigo. Todos têm problemas e mesmo que sejam ainda mais graves que os meus, a forma de os enfrentar é sempre muito semelhante. Há uma alternativa a cada esquina e cruzar os braços não é resposta a nada.

Hoje sou feliz! Todos os dias orgulho-me das pequenas coisas que consigo voltar a fazer como correr ou fazer alguns agachamentos. Tudo na minha vida gira à volta da saúde, da vontade de viver com qualidade! Eu não quero sobreviver na cama com dores no corpo e problemos aqui e acolá. O segredo é não ter medo de ser capaz de dar o primeiro passo. Depois disso, fica tudo mais fácil e acreditem, a vida sabe tão bem quando houve obstáculos pelo meio!


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