DESCULPAS

25-04-2020

Dizem que "as desculpas evitam-se". Talvez não devamos seguir à regra todos os ditados populares. A minha avó dizia que os mais antigos costumavam ter razão e por isso mesmo, estou confiante que há pedidos de desculpa que não são evitáveis. Na minha opinião, há pessoas que merecem ouvir; merecem saber que pedimos desculpa por arrependimento de algo ou seja qual for a razão. Assim que fazemos a nossa parte só podemos esperar pelo perdão; não é certo que esse virá mas a nossa mudança de posição é o primeiro passo.

Não sei o que se passa comigo. Porque é que ainda não tinha vindo cá escrever este ano é uma boa questão. Será que estive sempre ocupada; será que não tive uma hora livre para parar e pensar. Para parar, escrever, cuspir algumas palavras que tão bem me sabe no fim. É importante realçar que a maior parte daquilo que sinto vontade de escrever não se passa propriamente só comigo; são situações que eu vejo, absorvo, acontecem à minha volta e não me deixam indiferente.

A verdade é que temos sempre uma hora livre; é pena como o ser humano não sabe "arrumar" o seu tempo. Pode ser uma generalização muito grande; posso ser  só eu que não sei estabelecer prioridades, ou sequer estabelecer um horário. Quando algo acontece, provoca dor, abala bruscamente a minha vida e tendo a esquecer o que me rodeia. Procurei o pior caminho; o do isolamento e da solidão. A todos os que sofreram com isso, desculpem. Já pararam para pensar a quem devem um pedido de desculpa? Será que é justo estarmos constantemente a arranjar desculpas mas não as sabermos usar nos momentos certos?

Se calhar devia pedir desculpa aos meus avós, por passarem dias à espera da minha chamada e às vezes esta demorar mais do que devia; por acharem que me incomodam ao ligar e então ficarem com receio de me "chatear". Porque há pessoas que simplesmente não merecem ter essa preocupação. Os meus avós são os seres que estão nesse patamar. No patamar do "pode tudo". Podem tudo, dão tudo. E na correria que penso que é a minha vida retribuo-lhes com um grande nada. Não é justo; não está certo.

À minha irmã que não sendo ainda uma rapariga crescida já sente a falta que eu lhe faço e intencionalmente ou não, mostra-se sempre preocupada em saber se eu estou bem. As crianças são incrivelmente genuínas e honestas. Quando tinha 8 anos não pensava com a ternura e carinho que ela pensa; se calhar não tinha a capacidade de amar e olhar pelo outro que ela tem.

Aos amigos mais próximos que notaram alguma mudança em mim seja de que tipo for, benditos foram estes tempos que me fizeram pensar. Quando estamos bem, é fácil contar os amigos que estão à nossa volta; quando estamos mal, é bonito ver os que mesmo assim ficam de pé firme. Bater no fundo às vezes implica pausar a nossa vida, sucumbimos tão facilmente. Às vezes nem nos apercebemos do poço onde nos metemos.

A todos os que confiaram em mim e já partilharam histórias das suas vidas comigo; aos que se sentem à vontade para falar; aos que sentem que eu os oiço mas principalmente, aos que já sentiram tudo isto e não sentem mais: desculpem. Há momentos que temos de nos afastar, sentir coisas novas e voltar melhor. Ora bem, vamos pedir desculpa. Fiz. Não correu de forma maravilhosa. Deparo-me com o primeiro grande problema; apercebermo-nos de que estamos mal não significa que estamos a tempo de remediar a situação. O ser humano tem uma capacidade especial de aceitar e compreender as situações do outro; nem todos aceitam da mesma maneira e posto isto, não podemos recriminar alguém que se tenha magoado e não queira arriscar perdoar aquele que outrora já o desapontou.

Não é uma questão de a vida ser justa ou não. É dos poucos factos que temos de aceitar; não podemos mudar a mente de alguém, esse trabalho é individual e cabe a cada um definir aquilo que são os seus limites. Talvez um dia aqueles que se recusam a perdoar voltem. Talvez um dia errem e se ponham no nosso lugar. Até lá tentemos não guardar ressentimento. Honestamente, é ingrato ter que perder para ganhar. Sinto que ganhei tanto e paralelamente perdi. Não é suposto nos sentirmos assim, num labirinto de questões e sentimentos que nos fazem querer fugir. Não me arrependo de ter fugido. Agora regressei. Deixo o meu conselho, tentemos voltar a ser felizes.

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